_Não, eu não te conheço! - minha resposta saiu nervosa
_Fernando Portiglari - ele parou para tomar ar. Era pior do que eu pensava, ele sabia meu sobrenome! - você pode não me conhecer deste mundo, mas me conhece de outros...- ele enfiou a mão em um dos bolsos de seu casaco preto.
Era o fim, pensei, do bolso sairia uma faca, um canivete, uma arma, qualquer coisa que pudesse me ferir. Fechei os olhos por alguns instantes e esperei, talvez por alguns segundos ou até por minutos, nada aconteceu. Abri os olhos, ele segurava um colar na minha frente, bem próximo aos meus olhos, analisei o objeto. Era uma pedra azul no formato de um cilindro lapidado, mais ou menos de uns cinco centímetros e estava presa por uma barbante preto, aparentemente velho que terminava em um nó, formando o estranho colar.
_ O quê, você não vai me matar? - ele riu da minha pergunta, continuei - Não era uma arma, é um colar? O que significa isso tudo?
_Você vai entender, tome! - ele se aproximou mais ainda, não tive forças para recuar. Com a outra mão abriu a minha e depositou o colar em minha palma direita - Use a noite, quando for dormir e vai entender tudo.
Fiquei estático, olhando para o colar em minha mão. A luz do poste mais próximo acendeu, assustei sem querer. Algo me chamou a atenção, a luz que incidia sobre o colar fazia ele brilhar num tom de azul que me deixou perplexo, era simplesmente surreal aquele brilho. Tirei os olhos do colar, na esperança de que o homem também tivesse ficado pasmo. Pra minha surpresa, ele não estava ali. Fiscalizei com os olhos cada canto da rua, ele simplesmente tinha sumido. Mas como em um espaço de tempo tão curto? Era impossível, será que eu tinha imaginado? O colar na minha mão me dizia que não. Olhei novamente para a rua escura e nada. Não tinha sentido aquilo, minha cabeça ia explodir. Senti que podia andar novamente, pensei em jogar o colar fora ali mesmo na rua, não joguei. Fui correndo de volta para casa, usando de todas as minhas forças, tentei não pensar, só correr, respirar, correr.
Cheguei em casa em poucos minutos, abri o portão com minha chave e fechei o mais rápido que podia, tinha medo que pudesse ter sido seguido. Antes de abrir a porta da sala, retomei meu fôlego, ajeitei minha roupa, não queria que minha mãe me visse assim. Ela ia me encher de perguntas e me deixar mais inquieto do que já estava. Tinha decidido, não ia contar nada a ela. Abri a porta normalmente, a sala estava iluminada apenas pela luz da TV, minha mãe já vestida para dormir com um pijama cor de rosa claro estava deitada no sofá, ela tinha acordado com o barulho da porta.
_Que horas são? - perguntou se apoiando no sofá e ajeitando os cabelos louros já com suas mechas brancas. A pergunta dela me fez lembrar do incidente na rua, um arrepio subiu pelo meu corpo. Me controlei.
_São onze horas.- as horas me assustaram, eu realmente me atrasei.
_Você demorou hoje- terminou de ajeitar o cabelo - Já jantou?
_É mesmo, foi mal mãe, é que o pai da Aline me pegou de jeito falando de futebol - nisso eu falei sério - Eu já jantei, não se preocupe - nisso eu menti!
Deixei a sala antes que ela pudesse me fazer mais perguntas. Fui para o quarto e fechei a porta. Meu quarto estava uma bagunça, a cama que eu tinha deixado desarrumada, meus livros, roupas e tênis estavam no chão, eu precisava realmente dar uma faxina no local mas não tinha cabeça para isso agora. Fiquei a espreita até escutar os roncos vindos da sala, minha mãe tinha voltado a dormir. Tirei o colar do bolso e coloquei sobre a cômoda próxima a minha cama, encarei ele por alguns segundos, depois voltei para a realidade, fui até o armário, peguei uma toalha, tirei minha roupa, me enrolei nela e fui tomar um banho, precisava esfriar meus pensamentos.


1 comentários:

Danilo Milcartas 17 de julho de 2009 às 17:05  
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